06 julho, 2015

Papa celebra sua primeira Missa no Equador e fala da durante família em homilia


Nesta segunda-feira, 6, Papa Francisco presidiu sua primeira a Santa Missa em solo equatoriano. A celebração aconteceu às 11h15 (13h45 em Brasília) em Guayaquil no Parque dos Samanes em frente ao Santuário da Divina Misericórdia. Cerca de 1 milhão de fiéis estiveram presentes no local.

Confira abaixo o texto integral da homilia do Santo Padre.

A passagem do Evangelho que acabamos de ouvir é o primeiro sinal prodigioso, segundo a narrativa do Evangelho de João. A preocupação de Maria, transformada em súplica a Jesus: “Não têm mais vinho!” e a referência à “hora” vão se compreender nos relatos da Paixão.

É bom que assim seja, porque nos permite ver a ânsia de Jesus por ensinar, acompanhar, curar e alegrar, a começar da súplica de sua Mãe: “Não têm mais vinho!”.

As bodas de Caná se repetem em cada geração, em cada família, em cada um de nós e em nossas tentativas de fazer com que o nosso coração consiga se apoiar em amores duradouros, fecundos e felizes. Demos um lugar à Maria, “a mãe”, como diz o evangelista. Façamos com Ela o itinerário de Caná.

Maria está atenta naquelas bodas já iniciadas, é solícita pelas necessidades dos esposos. Não Se fecha em Si mesma, não Se encerra no seu mundo; ao contrário, o seu amor A faz “ser para” os outros. E, por isso, Se dá conta da falta de vinho. O vinho é sinal de alegria, de amor, de abundância. Quantos dos nossos adolescentes e jovens percebem que, em suas casas, há muito que não existe nenhum! Quantas mulheres, sozinhas e tristes, se interrogam quando foi embora o amor, quando se diluiu da sua vida! Quantos idosos se sentem deixados fora da festa das suas famílias, abandonados num canto e já sem beber do amor diário. A falta de vinho pode ser efeito também da falta de trabalho, doenças, situações problemáticas que as nossas famílias atravessam. Maria não é uma mãe “reclamadora”, não é uma sogra que espia para se consolar com as nossas inexperiências, erros ou descuidos. Maria é simplesmente mãe! Permanece ao nosso lado, atenta e solícita. Maria é mãe! Digam todos comigo: ‘Maria é mãe’. Outra vez: ‘Maria é mãe’. E é nesse momento que Maria se dirige com confiança a Jesus e reza.

Não vai ao chefe de mesa; apresenta a dificuldade dos esposos diretamente a seu Filho. A resposta que recebe parece desalentadora: “Que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora” (v. 4). Mas, entretanto, já deixou o problema nas mãos de Deus. A sua solicitude pelas necessidades dos outros apressa a “hora” de Jesus. Maria é parte dessa hora, desde o presépio até à cruz – Ela soube “transformar um curral de animais na casa de Jesus, com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura” (EG 286), e nos recebeu como filhos quando uma espada Lhe transpassava o coração –, Maria nos ensinou a deixar as nossas famílias nas mãos de Deus; ela ensinou a rezar, alimentando a esperança que nos indica que as nossas preocupações também preocupam Deus.

Rezar sempre nos arranca do perímetro das nossas preocupações, nos fazendo transcender aquilo que nos magoa, agita ou falta a nós mesmos para nos colocarmos na pele dos outros, calçarmos os seus sapatos. A família é uma escola onde a oração também nos lembra que há um nós, que há um próximo vizinho, evidente: vive sob o mesmo teto, compartilha conosco a vida e se faz necessitado.

Maria, finalmente, age. As palavras “fazei o que Ele vos disser” (v. 5), dirigidas aos serventes, são um convite dirigido também a nós para nos colocarmos à disposição de Jesus, que veio para servir e não para ser servido. O serviço é o critério do verdadeiro amor. E isso se aprende especialmente na família, onde nos tornamos servidores uns dos outros por amor. No seio da família, ninguém é descartado; Todos valem o mesmo.

Na família, “se aprende a pedir licença sem servilismo, a dizer ‘obrigado’ como expressão duma sentida avaliação das coisas que recebemos, a dominar a agressividade ou a ganância, e a pedir desculpa quando fazemos algo de mal. Esses pequenos gestos de sincera cortesia ajudam a construir uma cultura da vida compartilhada e do respeito pelo que nos rodeia” (LS 213). A família é o hospital mais próximo, a primeira escola das crianças, o grupo de referência imprescindível para os jovens, o melhor asilo para os idosos. A família constitui a grande “riqueza social” que outras instituições não podem substituir, devendo ser ajudada e reforçada para não perder jamais o justo sentido dos serviços que a sociedade presta aos cidadãos. Com efeito, esses serviços que a sociedade oferece aos cidadãos não são uma espécie de esmola, mas uma verdadeira “dívida social” para com a instituição familiar, que é a base e que tanto contribui para o bem comum de todos.

A família também constitui uma pequena Igreja, uma “Igreja doméstica” que, juntamente com a vida, canaliza a ternura e a misericórdia divina. Na família, a fé se mistura com o leite materno: experimentando o amor dos pais, sente-se envolvido pelo amor de Deus.

E, na família, os milagres se fazem com o que há, com o que somos, com aquilo que a pessoa tem à mão. Muitas vezes não é o ideal, não é o que sonhamos, nem o que “deveria ser”. Tem um detalhe para se fazer pensar. O vinho novo das bodas de Caná nasce das talhas de purificação, isto é, do lugar onde todos tinham deixado o seu pecado. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5, 20). Na família de cada um de nós e na família comum que todos formamos, nada se descarta, nada é inútil. Pouco antes de começar o Ano Jubilar da Misericórdia, a Igreja vai celebrar o Sínodo Ordinário dedicado às famílias para amadurecer um verdadeiro discernimento espiritual e encontrar soluções concretas para as inúmeras dificuldades e importantes desafios que a família deve enfrentar nos nossos dias. Convido vocês a intensificar a oração por essa intenção: para que, mesmo aquilo que nos pareça impuro, nos escandalize ou espante, Deus – fazendo-o passar pela sua “hora” - possa milagrosamente transformá-lo. A família hoje precisa desse milagre.

E toda essa história  começou porque “não tinham vinho” e tudo se pôde fazer porque uma mulher – a Virgem Maria – esteve atenta, soube pôr nas mãos de Deus as suas preocupações e agiu com sensatez e coragem. Mas, tem um detalhe e não é menos significativo o dado final: saborearam o melhor dos vinhos. E essa é a boa nova: o melhor dos vinhos ainda está por ser bebido, o mais gracioso, profundo e belo para a família ainda está por vir. Ainda está por vir o tempo em que saboreamos o amor diário, onde os nossos filhos redescobrem o espaço que partilhamos, e os mais velhos estão presentes na alegria de cada dia. O melhor dos vinhos está na esperança, está para vir a cada pessoa que aposta no amor. Precisamos apostar no amor! E ainda está por vir, mesmo que todas as variáveis e estatísticas digam o contrário; o melhor vinho ainda está por vir para aqueles que hoje veem desmoronar tudo. Murmurai até acreditá-lo: o melhor vinho está por vir; e sussurrai-o aos desesperados ou que desistiram do amor. Deus sempre Se aproxima das periferias de quantos ficaram sem vinho, daqueles que só têm desânimos para beber; Jesus Se sente inclinado a desperdiçar o melhor dos vinhos com aqueles que, por uma razão ou outra, sentem que já lhes romperam todas as talhas.

Como Maria nos convida, façamos “o que Ele nos disser” e agradeçamos por, neste nosso tempo e na nossa hora, o vinho novo, o melhor, nos faça recuperar a alegria de viver família.


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