05 junho, 2015

O homem foi feito “à imagem e semelhança de Deus?” Tomás de Aquino explica


Texto de Pe. Anderson Alves, Doutor em filosofia pela Pontifícia Universidade da Santa Cruz 
Publicação original no site Zenit
Uma das afirmações bíblicas mais conhecidas e fonte do humanismo cristão diz que o homem foi feito “à imagem e semelhança de Deus”. Porém, qual seria o significado dessa expressão? “Imagem” e “semelhança” significam a mesma coisa ou há algo de específico em cada uma dessas noções? O homem, com o pecado, perdeu a imagem ou a semelhança com Deus? Santo Tomás de Aquino tratou com profundidade essas questões na sua Suma Teológica (I, q. 93, arts. 1-9) e vamos procurar expor o que ele disse numa série de textos.




Em primeiro lugar, parece que a expressão “à imagem e semelhança de Deus” não é muito adequada, pois São Paulo disse no Novo Testamento que somente Cristo é o primogênito de toda criatura e imagem perfeita de Deus (Col. 1, 15). Esse versículo parece fazer o antigo texto de Gênesis obsoleto.
Entretanto, a afirmação do Antigo Testamento, “façamos o homem a nossa imagem e semelhança” (Gn. 1, 26), não pode ser abandonada. É uma afirmação verdadeira e sempre válida. É preciso compreender o que distingue as noções de “imagem” e “semelhança” para compreender o sentido dos dois versículos bíblicos antes citados.
Segundo Santo Agostinho, “onde se dá a imagem se dá imediatamente a semelhança, mas onde há semelhança não há imediatamente imagem” (Octaginta trium quaest.). Isso significa que “semelhança” é essencial à imagem, fazendo parte daquela noção. “Imagem” então acrescenta algo ao conceito de “semelhança”: a noção de ser sido feito por outro. Uma imagem imita a outra coisa e depende sempre da coisa que imita. A imagem é, pois, uma semelhança que depende necessariamente de outro e deriva do ato de imitar. O exemplo que dá Santo Tomás é ilustrativo: um ovo pode ser semelhante a outro, sem ser imagem daquele. A imagem de um homem no espelho é semelhante ao homem, e procede necessariamente dele.




A imagem inclui em si a noção de semelhança e acrescenta a ela a ideia de ser dependente de outro. A noção de imagem, porém, não requer a igualdade. A imagem de uma pessoa pode ser refletida no espelho, o que não faz que haja igualdade total entre a pessoa e sua imagem. Porém, se houver a igualdade, diz-se que imagem é uma perfeita imitação do que foi representado. Sendo assim, o homem é imagem de Deus porque há certa semelhança de Deus nele. O homem, de fato, depende dele como sua causa última. Não há, porém, igualdade entre Deus e o homem, visto que Deus supera infinitamente o mesmo homem.
O homem, portanto, possui uma imagem imperfeita de Deus. Por isso Gen. 1, 26 diz que o homem foi criado “à imagem e semelhança de Deus”. “À” indica precisamente aproximação.
Jesus Cristo, por sua vez, é o primogênito de toda criatura e imagem perfeita de Deus (Col. 1, 15). Note-se que São Paulo diz que Jesus é Imagem de Deus, e não “à imagem”. Isso significa que o Filho possui uma semelhança perfeita com o Pai, pois ambos possuem a mesma natureza divina. Jesus Cristo, de fato, é “Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado não criado, consubstancial ao Pai” (Credo Niceno-constantinopolitano). Santo Tomás faz a seguinte comparação: em Jesus Cristo se dá a imagem de Deus assim como a imagem de um rei está presente no seu filho natural. A imagem de Deus no homem, por sua vez, se dá como a imagem de um rei na sua moeda.
Desse modo, fica esclarecido que o homem foi feito “à imagem e semelhança de Deus” e Jesus Cristo é a Imagem perfeita de Deus, pois quem o vê, vê o Pai (Jo. 14, 7).
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